No
âmbito do estudo do texto poético, os alunos do oitavo ano, turma C, segiuram as
«pegadas» de Camões e redigiram um poema coletivo. Este texto é o resultado das
diferentes definições individuais de um sentimento tão profundo quanto complexo
e controverso: o Amor.
Amor é um fogo que arde sem se ver
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se e contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é nunca contentar-se e contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in
"Sonetos"
O Amor é…
O alimento da alma. É sermos
guiados pelo coração, contra tudo e todos. É uma força maior do que a da
Natureza, alimentada por simples gestos. É, também, uma arma contra a
violência. É o que nos une e nos mantém vivos. É algo puro e genuíno, como uma
pequena criança. É como as tintas que dão vida a uma tela.
Um sentimento que nos
comanda e que nos leva a agir sem pensar.
Sentir que temos alguém ao
nosso lado em todas a situações.
Um sentimento forte e verdadeiro,
que se dá e recebe.
Um sentimento partilhado por
duas pessoas que querem expressar mutuamente as emoções, mas com a obrigação de
amar e respeitar.
É uma beleza que não se vê,
mas, indubitavelmente, a maior do universo.
É um sentimento que está
presente em todos nós e pode ser conquistado com pequenos ou grandes gestos.
É algo único que não se vê,
porém, anda por todo o mundo, entre a multidão.
“Cego”, não interessa a
idade, o sexo, a cor… Existem diferentes tipos de amor: amor de família, de
amizade, de paixão, mas não deixa de ser amor: o sentimento mais forte do
Mundo.
Um sentimento multifacetado
que pode ser recíproco, que se demonstra por atos carinhosos ou pela forma como
se trata as pessoas de quem gostamos. É trocarmos energias positivas com as
pessoas que amamos.
Ter milhares de escolhas e
fazer sempre a mesma, todos os dias.
Quando nunca nos sentimos
sozinhos, quando temos alguém que nos acompanha. É um sentimento inexplicável.
Sentir paixão ou qualquer
outro tipo de afeto pelo outro. É ajudá-lo e acarinhá-lo. É realizar atos de
bondade.
Uma atração que não se
explica, sente-se apenas. É uma força comandada pelo nosso coração que nos
obriga a ser leais.
Um sentimento que nos une e
nos deixa mais felizes, completos e realizados.
Dar sempre o melhor de nós,
é pensar no bem geral e não apenas no bem individual, é saber partilhar, é
saber oferecer e não apenas receber.
Algo que acontece que
espontaneamente, é ter alguém que está sempre connosco.
Algo que se sente, que nos
deixa ansiosos e muito felizes. Pode manifestar-se e ser interpretado de várias
maneiras.
O que nos alimenta todos os
dias e o que nos faz querer continuar a viver. É ajudar e ser ajudado, é ser
feliz.
Tão puro como a água que
bebemos.
Como uma flor, precisa de
ser regado todos os dias com pequenos gestos.
Um sentimento inexplicável
que toma conta dos nossos corações.
Algo que não se vê, mas que
está presente em todo o lado. Cria e destrói, une e desune pessoas e nações.
Uma força inexorável que se
apodera dos nossos corações e controla as nossas vidas.
Um sentimento tão forte,
inevitável e compulsivo como a vontade de dar “spoilers”, quando vês a mesma
série pela terceira vez. Aparece tão rápido como o “Flash”, é eletrizante como
o “Blacklightning”, emocionante como “Stranger Things”, mas pode magoar tanto
como as setas do “The Arrow”. Quando amamos alguém, sentimo-nos na “La Casa de
Papel”, pois roubam-nos o coração.
Português - 8º C
Também
o Concurso Literário, promovido pelo Grupo Disciplinar de Línguas Românicas do
Ensino Básico, teve como tema «O Amor». Os concorrentes surpreenderam-nos, mais
uma vez, pela sua criatividade, originalidade e qualidade de escrita. Seguem-se
alguns exemplos….
De Julieta, Romeu e flor se faz história de amor
Livro dos Desprovérbios
Desabrochavam
já, na velha macieira do pátio da escola, os primeiros sorrisos rosados das
flores, quando Joana se sentou debaixo da árvore secular cujos ramos lembravam
braços prontos a socorrer um lenho em mar revolto. Uma
náufraga! Esta era a sensação da jovem desde que chegara à escola e procurara,
em vão, a ilha de um sorriso. Era, pois, sob a sombra protetora da antiga
árvore que passava os intervalos intermináveis. Tímida, incapaz de reconstruir
a teia de afetos, quebrada com a mudança da família, Joana vira naquela árvore
o berço que, naquela manhã de primavera, a embalava na leitura das iniciais
gravadas no banco que circundava a venerável macieira. Alheada, não viu o rapaz
que se aproximava perigosamente de um casulo que ainda ninguém rasgara.
– Olá, és nova por cá! Como te
chamas? Eu sou o Rodrigo.
Rodrigo e Joana, Romeu e Julieta… uma luz quente atravessou o
coração de Joana, que não conseguiu articular uma só palavra da fórmula de
apresentação milhões de vezes ensaiada. Mesmo recém-chegada, a onda de beleza e
simpatia que Rodrigo arrastava consigo, já se abeirara da sua árvore. Alto e
magro, foram, todavia, os seus olhos, de um azul tão líquido que parecia querer
derramar-se, que atraíram Joana como a luz de um farol na escuridão. Apenas
dois sulcos vincados e negros nas pálpebras conferiam a este Apolo uma nota de
mortalidade. Por isso, quando Rodrigo se afastou, Joana pensou, frustrada, que
as ondas são beijo breve e é nesse momento fugaz que temos de lhes sentir o
sabor a sal. E, ainda por isso, foi colhida de espanto, quando, no dia
seguinte, Rodrigo voltou e ficou debaixo daquele véu de grinaldas esvoaçantes.
O rapaz foi demorando um pouco mais a cada dia, até os intervalos começarem a
ser demasiado curtos para tudo o que havia a dizer. Até os professores, cientes
de que a verdadeira aula era dada todas as manhãs debaixo da macieira florida,
ignoravam os atrasos dos dois apaixonados. Após um mês, o namoro era oficial,
apadrinhado pelos gomos, frutos perfeitos, despontando carnudos e olorosos no
pátio tristonho da escola.
Será curto este parágrafo, da mesma
forma que sempre são breves os momentos de felicidade. Deixam, porém, uma marca
em filigrana no coração, como o J e o R que Joana e Rodrigo talharam a canivete
no banco que abraçava a macieira. E só mesmo estas duas letras recortadas e
puras testemunharam, nesta Verona improvisada, os beijos roubados e as
conversas tontas, que encheram as tardes dos dois namorados, passadas de mãos
dadas a falar do futuro, esse andarilho cioso da sua privacidade, que deixa apenas
uma pequena porta entreaberta, pela qual dá para sentir o seu perfume, mas que não deixa ver com clareza o
seu interior. Foi já explodindo de frutos perfumados que a macieira assistiu,
num silêncio levemente desdenhoso, à despedida dos dois jovens para cumprirem
dois meses de férias grandes, oferecendo o seu fruto doce, apetecível, mas
adiado.
Quando Joana regressou à escola, as
folhas amarelas da macieira vestiam a sua capa de outono. Sentou-se debaixo da
enorme copa, à espera de matar a sede na água cristalina dos olhos de Rodrigo,
mas, nessa manhã fria, ele não apareceu e, só uma semana depois, Joana viu
explicada esta ausência tecida de indiferença. Foi pela mãe de Rodrigo que
soube da sua morte, durante as férias, vítima de uma doença que lhe cavara
ainda mais os dois sulcos negros. Determinado a fintar a morte, não quisera
partilhar com a namorada as sessões de quimioterapia e a queda do cabelo que
confiava voltar a ver crescer, salpicados de leves flores de macieira. Contudo,
também a morte tem os seus caprichos de donzela e a juventude de Rodrigo era
uma conquista irresistível para esta devoradora de sonhos que reclamou o seu
troféu já no final do verão, quando as maçãs vermelhas caíam inúteis no pátio.
Subjugada pelo desespero desta revelação brutal, Joana deixou de sentir. O que
lhe poderia agora ensinar a macieira nos seus vestidos de inverno? Deixou de
procurar a árvore e fechou-se num ouriço de recusas que fazia recuar todos os
que à sua volta se esforçavam por a devolver à vida.
Assim, só quando o Sol envolveu
novamente a macieira no seu vestido de gala, Joana se sentou no velho banco de
madeira esverdeada e percebeu uma pequena caixa escondida dentro do tronco da
árvore. Sentiu um baque no coração, o primeiro em meses, e agarrou a caixa. Incrédula,
encontrou uma carta de Rodrigo. “Para a
minha Julieta” eis as letras escritas numa letra firme, que a chuva quase
apagara. Mas nem o tempo se atrevia a negar o direito a uma resposta que Joana
acreditava ser-lhe devida. Deixou falar a carta que lhe testemunhava o quanto
Rodrigo se sentira feliz por a ter conhecido e o quão grato estava por ter sido
abençoado com a sua amizade. Atrevia-se mesmo a pedir-lhe que não fechasse o
seu coração ao amor. No final, Joana apertou o papel junto ao coração. Sabia
agora que o amor era a jangada de afeto que não mais a deixaria à mercê das
vagas da solidão. Então, lentamente, o seu coração esvaziou-se do fel de
sucessivos aluviões de raiva. Olhou novamente as duas iniciais gravadas no
banco e compreendeu que desafiavam a morte, cobertas das frágeis pétalas
rosadas da macieira.
Nessa noite, após ter aceitado o
convite de Raul para sair, o diário que não fora aberto desde a morte de
Rodrigo iniciava com uma frase singular “Naquele
momento, aprendi a amar”.
Carolina Paupério, 9º C
(Texto vencedor)
A lição
À primeira vista, parecia um
dia normal, típico e monótono. Decidi, então, ir dar uma caminhada para tentar
desanuviar de todas as contradições néscias e palermas que afloravam na minha
cabeça a cada segundo que passava.
Desde há muito tempo que
carregava este peso que adquiri não sei bem porquê e muito menos quando. Era
como se, de certa forma, ele estivesse sempre lá. E a cada dia este sentimento
de rejeição de mim mesma aumentava e eu não conseguia controlá-lo.
Por isso, numa tentativa de interromper,
nem que por alguns segundos, a espiral descendente da minha recusa interior,
decidi ir dar um passeio, sem destino ou tempo definido.
Comecei a caminhar
lentamente, a focar-me na respiração e a apreciar cada detalhe do mundo em meu
redor. Nesta minha marcha demorada, tentei admirar esses detalhes de uma forma
mais positiva. Era uma manhã de cores suaves, de brisa fresca e de sol pouco
abrasador, que revelava o impetuoso frio que não ajudava a equilibrar a
temperatura da minha alma, outrora aquecida, mas que havia algum tempo esgotara
o calor da felicidade.
E, numa tentativa de aquecer
esta alma enregelada, tentei apreciar o cheiro da natureza, com a
característica fragância a flores que, pensando bem, até era muito
reconfortante, e a estimar a brisa, que se detinha assim que encontrava o meu
corpo e que arrastava ligeiramente as folhas secas, escuras e enrugadas,
típicas da estação do ano.
Entretida, a acompanhar o
movimento destas folhas amarrotadas, acabei por chegar a um jardim amplo, cheio
de choupos desprovidos de folhas, com os seus ramos nus à mercê dos ventos e
das chuvas. No centro deste austero jardim, encontrava-se um baloiço velho de
madeira, onde uma menina se sentava. Esta tinha faces pálidas, quase até
translúcidas, que contrastavam com o seu cabelo negro como o carvão.
Não consegui deixar de
reparar nos seus olhos, verdes, que lançavam um olhar vago e misterioso, e que
a envolvia numa áurea pessimista e de certa forma negativa. Retive-me para a
observar melhor… E não bastou muito tempo para perceber que a rapariga de pele
translúcida trespassada pelos quentes, finos e revigorantes raios de sol era
eu.
Era eu que me envolvia a mim
mesma num clima de negatividade por nenhuma razão aparente...
Perdida nos meus
pensamentos, uma gota de água despertou-me para a realidade. Em poucos segundos
começou a chover intensamente.
A chuva violenta começou a
bater contra o meu corpo, sem misericórdia ou compaixão. Podia fugir dela e
tentar abrigar-me, podia colocar o meu casaco por cima da cabeça. Mas não o
fiz. Apenas fiquei parada a sentir o peso das minhas roupas encharcadas e a
admirar o arco-íris que se havia formado no céu azul e cinzento. E neste
momento desliguei-me do real apenas para usufruir do momento. Ao longe, o
coaxar das rãs elaborava uma sublime melodia adjacente ao barulho da chuva a
bater contra a densa e espessa relva. Inspirei e suspirei algumas vezes. E uma
lágrima cristalina caiu, camuflada pelos pingos grossos e densos, a escorrer-me
na face. Uma lágrima que continha todas as minhas dúvidas e indeterminações.
Uma lágrima pura que fez com que algo em mim voltasse a aquecer.
E naquele momento, aprendi a
amar. Aprendi a amar a vida, a amar o facto de poder respirar, sorrir e chorar,
de poder amar. Amar-me a mim mesma e aos que me rodeiam. A amar os cheiros, as
cores, os sabores e os arrepios. A amar a tristeza porque ela faz com que a
felicidade seja ainda mais gratificante. A amar o sangue quente que corre nas
minhas veias e a amar o coração palpitante dentro de mim. A dar valor aos que
me rodeiam e que me amam. Aprendi que tenho o poder de ser feliz e de fazer os
outros felizes. A amar o facto de estar viva.
Naquele dia normal, típico e
monótono, eu aprendi a lição mais importante da vida, aliás, aprendi a lição da
base da vida: amar e deixar ser amado.
E, a partir daquele momento,
eu comecei a viver e não simplesmente a existir.
Beatriz
Lima Coelho, 9ºA
Querida Lua,
Ela. Amo-a? Não sei se é
amor, mas é algo que me parece normal e especial, que me parece simples e
complexo, que tanto parece um abraço como um aperto sufocante.
Certo dia, apareceu,
acompanhada por um sorriso infantil, um sorriso que me contagiou e acelerou, um
sorriso capaz de me enfeitiçar. O cabelo negro da cor das rochas com que o mar
conversa, os traços femininos e o seu andar deixaram-me afónico e, pelo que me
pareceu, deixaram--me apaixonado.
Foram sorrisos, provocações,
foram dias, foram noites… Foram muitas as vezes em que ela me invadiu e me
controlou. Por vezes, mascarava-se no escuro da noite e aparecia junto a mim no
meu quarto, deitava-se ao meu lado e dava-me a mão. Sorria, cantava, e ficava
ali comigo no silêncio só a existir, e fazia-me feliz. Outras vezes, dava-me a
sua mão macia e levantava-me, punha os braços à minha volta e dançávamos.
Enquanto me sussurrava ao ouvido doces melodias, os nossos corpos viajavam no
meu pequeno quarto e uniam-se, tornando- se num só. E o quarto iluminava-se, a
nossa união era consumada num clarão que me cegava… Estava de novo tudo escuro,
eu deitado e ela longe, mas perto, dentro de mim, sempre.
Acreditei… tudo aquilo me
enfeitiçou e me fez crer que ela era a tal, que era ela quem me fazia feliz,
que era ela quem me estava destinada.
Foram muitos os dias em que
a vi sorrir para o chão, naquele seu olhar envergonhado, naquele seu jeito de
ser que me desconcertava e me destruía lentamente, um castigo, uma dor que eu
precisava para poder sorrir.
E eu via-a diminuir-se para
caber no coração daquele que a “amava”, aquele que, segundo ela, era perfeito,
que a amava como ninguém.
Lembro-me de uma noite de
inverno, em que a chuva resmoneava na rampa da garagem e eu pensava nela, na
maneira singular como me olhava, cada olhar que lançava incendiava-me, sem
razão alguma, um olhar de relance era o suficiente para me fazer apaixonar cada
vez mais por ela.
E aconteceu, o inevitável
tornou-se parte da minha realidade e ela apaixonou-se…por ele. Não soube bem o
que pensar, de entre os vários cenários que idealizara, este fora o único que
nunca tinha sido sequer considerado. O conto de fadas por mim escrito tinha
agora um trágico desfecho, num gesto egoísta o destino escolheu punir-me…por
amar.
A partir daí tudo mudou. Os
planos alteraram-se, um futuro desenhado a traço fino, era agora apagado,
avizinhava-se um novo desenho, desta vez, desenhado com amor. Sim, porque no
momento em que a vi partir sorrindo, aprendi a amar. Amar tornou-se simples. A
minha paixão por ela fazia sentido, amava-a mesmo que esse amor não fosse recíproco,
amava-a mesmo sabendo que isso nada alteraria.
O mundo ganhou outra cor, o
meu desenho aparecia agora passado a tinta, brilhando com cores vibrantes. Ela
estava feliz, como…? Não sabia, mas isso era o suficiente para me deixar feliz,
ver a pessoa que amava a sorrir fazia-me amá-la.
Amar por mim e por ela fez
com que a minha paixão não se desvanecesse. Ainda hoje a amo, e grito-o: “Amo-a!”.
Diogo Coutinho, 9º A