terça-feira, 27 de março de 2012

Concurso de Contos


Os alunos do 6º ano aventuraram-se no mundo da escrita e redigiram um conto, tendo por base as opções propostas pelas suas professoras e obedecendo ao regulamento apresentado.
O júri, constituído pelas docentes de Língua Portuguesa do ensino básico, selecionou os três melhores textos: 1º- O sonho da Marta; 2º- A fada e os três feiticeiros; 3º -Uma nova vida.
Parabéns aos vencedores!

 O Sonho da Marta

Marta era uma rapariga lindíssima, que andava sempre com duas tranças compridas e louras. Era muito simpática e curiosa, embora um bocadinho teimosa. Ela vivia com os dois irmãos mais novos, Tiago e Miguel, e com os pais, na aldeia das Maravilhas. Marta sempre aprendera a conviver com o campo, com os animais e com a natureza.

            Certo dia, enquanto passeava junto ao Lago das Ilusões, ouviu alguém que a chamava:

- Marta! Marta! Sou eu, a fada!

            Marta nunca soubera porque se chamava o Lago das Ilusões, mas, mal se voltou para cumprimentar a fada, caiu no chão, desmaiada.

            De repente, apareceu, mesmo à sua frente, um Castanheiro com uma pequena flor que nascia no seu tronco. Marta adorava flores, por isso cheirou-a, mas logo depois se abriu uma porta no Castanheiro de onde saíram um gnomo gorducho, com cerca de um palmo de altura, e um grande livro encarnado.

            - Ai, a minha cabeça! – queixou-se o gnomo.

            - Quem és tu? O que fazes aqui? – inquiriu ela.

            - Eu sou o gnomo Gnomês. E tu?

            - Olá! Eu chamo-me Marta e não sei como vim aqui parar.

            - Pois eu também não sei como vieste, mas já que aqui estás, podias ajudar-me a colocar as palavras que estão neste livro, no lugar correto.

            A Marta abriu o livro e reparou que elas estavam todas por ordem alfabética e por isso não compreendia o que o seu amigo queria que ela fizesse. Então, ele explicou-lhe que aquelas palavras eram valores, como a amizade, o amor, a igualdade e a verdade e que ela tinha que percorrer o mundo para as colocar no devido lugar.

            Ela partiu à aventura e colocou a amizade junto das crianças que estão sempre a lutar na escola, o amor junto dos casais, a igualdade junto das pessoas de África, a verdade junto dos mentirosos…
            Concluída a tarefa, regressou ao misterioso lugar, onde se encontrava o seu amigo gnomo, ansioso que ela chegasse.

            - Pronto, já está! Mas… - admirou-se ela.

            Olhou para o livro e reparou que se tinha esquecido do valor beleza. Ia a pegar na palavra, quando tropeçou numa pedra e bateu com a cabeça no chão.
            Acordou junto ao Lago das Ilusões, entendendo agora o significado do seu nome e recordando-se que se esquecera de colocar a beleza no seu lugar. Mas, entretanto, lembrou-se que o gnomo conseguiria colocar aquele valor no seu lugar, pondo-o no misterioso lugar onde se encontrava, transformando-o numa floresta encantada.

            Por isso, Marta ficou muito orgulhosa de si mesma, porque, mesmo tendo sido um sonho, para ela, foi mais do que isso. Na realidade, foi mudar o mundo para melhor e mais justo, ajudando quem mais precisava e distribuindo os valores pelo mundo.
              E, assim, a Marta viveu mais feliz!

Maria João Vilaça, 6º C
A fada e os três feiticeiros

Adicionar legenda

Em tempos muito antigos, vivia numa grande floresta uma fada chamada Mil Cores. Chamaram-na assim, pois as suas asas eram repletas de muitas e variadas cores, que brilhavam ao sol.
A fada Mil Cores adorava a sua floresta natal. Era maravilhosa! As árvores, entrelaçando as suas copas com as vizinhas do lado, criavam uma penumbra fresca e aconchegante. Os riachos eram tão límpidos que se podia ver o fundo!
            Um dia, aconteceu que, estando a fada empoleirada no ramo de um carvalho perto da sua casa, ouviu o som de uma trompa e cascos batendo no chão. Como era muito curiosa, espreitou por entre a folhagem e ficou deslumbrada! Um cortejo de caçadores passava, cavalgando. Mas o olhar da fada ficou preso ao cavaleiro que vinha em primeiro lugar. Tinha cabelo louro, olhos azuis e era muito alto e forte. Percebia-se que era príncipe.
A fada, que nunca antes vira um humano, apaixonou-se e não deixou de o fitar até que o último cavaleiro desapareceu de vista.
A princípio, Mil Cores apenas pensava em segui-lo, mas, de repente, pensou: «Eu sou uma fada. Não sou igual a ele.»
Depois de várias tentativas para resolver o seu dilema, Mil Cores encontrou a solução: iria ter com os três feiticeiros mais poderosos da floresta – o feiticeiro da terra, o feiticeiro da luz e o feiticeiro do ar. Um deles deveria poder ajudá-la!
E assim foi. A pequena fada voou pela floresta até encontrar a gruta do feiticeiro do ar. Por sorte, o dono estava em casa e escutou atentamente o pedido da Mil Cores:
- E é por isso que te vim procurar. Talvez consigas tornar-me humana…
- Vou tentar, mas não te prometo nada – disse o velho coçando a barba - preciso da minha varinha. Segue-me – ordenou o mago.
  Dentro da gruta, este preparou uma poção que verteu sobre a sua varinha. Depois, pronunciou as palavras mágicas e Mil Cores fechou os olhos…contudo, quando os abriu, não era humana, mas sim uma nuvem! Os poderes do mágico, sendo do ar, nada podiam fazer por Mil Cores. O feiticeiro retomou a imagem da fada e desejou-lhe boa sorte. O mesmo se passou com o feiticeiro da luz, que apenas a conseguiu transformar num raio de sol.Mil Cores despediu-se dele, pensando: «O feiticeiro da terra é a minha última hipótese!»
  A gruta do terceiro feiticeiro era muito bonita, da mesma maneira que o mago era muito alegre. Mais uma vez a fada explicou o que desejava e o feitiço desta vez… resultou! Mil Cores estava felicíssima! Agora, era humana e o cavaleiro já a veria com outros olhos! Agradeceu ao feiticeiro da terra, que ainda lhe ofereceu um cavalo para ela ir mais depressa ao encontro do príncipe.
  A seguinte fase do plano de Mil Cores não foi difícil, pois também o príncipe gostou muito dela e, em breve, se tornaram inseparáveis!
  Poucos dias depois, realizou-se o casamento e, ao lado de Mil Cores, estava o seu amigo feiticeiro que a tinha ajudado a concretizar o seu sonho.
Lia Inês Noga, 6º C
Uma nova vida
            Era uma vez uma velha muito velha e muito má.
    Já fazia maldades há tanto tempo que já tinha feito mais maldades do que os dias de vida que tinha.
            Ninguém gostava dela e, sempre que passava na rua, as pessoas jovens, adultas ou até outras velhas, diziam:
            - Lá vai a velha mais velha e mais maldosa do planeta!
            E ela, a todos respondia:
            - Ainda não viram nada! Esperem pela próxima e verão o que vos faço! – e ria-se às gargalhadas.
            As suas maldades eram as mais variadas: partir vidros das casas, abrir as cercas dos animais, roubar os melhores frutos e legumes aos vizinhos, tirar o lanche às crianças que iam para a escola, atirar terra à roupa lavada que estava a secar nas cordas…
            A aldeia já estava tão farta das partidas da velha que os aldeões decidiram fazer uma reunião para resolver o problema.
            Conversaram durante muito tempo, sem chegar a conclusão nenhuma, até que o menino mais novo da aldeia, que tinha apenas onze anos, disse:
            - E porque é que nós não lhe pregamos as mesmas partidas que ela nos tem feito a nós? Assim, pode ser que ela aprenda uma lição.
            Os adultos acharam uma excelente ideia e ficaram a noite toda a combinar os pormenores para “tramar a velha”.
            Logo na manhã seguinte, muito cedo, um dos aldeões abriu a porta do galinheiro da velha, as galinhas entraram na horta e comeram os legumes que estavam plantados.
            Outro aldeão esperou que a velha estendesse a roupa lavada para, logo a seguir, a sujar toda com terra.
            A velha, já muito zangada com o que lhe tinha sucedido nesse dia, resolveu sair de casa para ir roubar o seu almoço, que era o lanche das crianças. Só que, mais uma vez, as coisas não lhe correram bem porque todas as crianças iam para a escola acompanhadas pelos seus pais.
            Cheia de fome, foi para casa e, quando chegou, viu que tinha todos os vidros das janelas partidos.
            A velha sentiu na pele as maldades que costumava fazer aos outros. Chorou, arrependeu-se e jurou nunca mais voltar a pregar partidas nem a fazer maldades.
            Aos poucos, a velha foi conquistando a amizade dos outros e viveu muito mais feliz o resto da sua vida.
Pedro Sá,  6º E

segunda-feira, 5 de março de 2012

SEMANA DA LEITURA de 5 A 9 DE MARÇO

               Promover a leitura é um dos objetivos que norteiam o ensino do português, língua materna.

                É importante que os nossos alunos gostem de ler. A leitura deverá constituir um momento de prazer, quer na fruição momentânea, quer no reconhecer futuro dos benefícios resultantes ao nível do desenvolvimento de outras competências.

                O poema narrativo, que se segue, de Vasco Graça Moura ilustra o envolvimento do leitor que é «puxado para dentro do texto» e, inebriado pela imaginação, dele se recusa a sair…

Quatro crianças estavam na praia, sentadas junto às rochas, e tinham um livro no colo. Um cão andava por ali como que a observar o que as crianças faziam; um guarda passou por perto. O mar estava muito azul. Enquanto liam, os meninos sentiam-se os protagonistas das histórias contadas de onde não conseguiam sair; não queriam regressar ao mundo onde não é possível "brincar"; queriam continuar a ler, mesmo que a leitura implicasse muito esforço e, assim, continuaram até à hora do lanche.



biblioteca itinerante

quatro crianças de chapéu de palha

e bibe curto às risquinhas, e livro aberto no colo,

junto às rochas, na praia, e um cão, mas esse era analfabeto de certeza,

a espreitar a cena,

e uma praça da guarda que ia

a passar por ali, na pasmaceira,

mesmo a propósito,

enquanto o mar parecia absolutamente

pintado a tinta muito azul.



a história pode começar assim,

por ser a dos meninos que, nas páginas abertas,

iam a caminho da floresta e se enfronharam

em tanta vegetação mágica, ou a dos meninos

que escorregaram por um buraco encantado abaixo

e não conseguiam sair de lá,

nem queriam,

 ou a dos meninos que, na correria,

jogando à bola, à macaca, à cabra-cega,

aos piratas, aos polícias e ladrões,

e a tantas outras coisas a que jogam os meninos

e as meninas, por exemplo, apanhar conchas

mesmo que só na imaginação, se perderam no mundo

que não brinca.



primeiro foi o cão.

ladrou, ergueu a pata, pôs-se

à frente deles, a dar à cauda muito contente, e quis

ajudá-los a encontrarem uma saída, mas

desorientou-se facilmente,

por ser ainda cachorrinho e estar

há muito pouco tempo nesta história.

deu-se o caso de passar

segunda vez o guarda. mas o guarda,

que não era da terra e não sabia

nada de crianças, nem consta que

tivesse biblioteca, voltou para o quartel

sem dizer nada a ninguém,

porque achou que não podia fazer nada.



já era de esperar, o sol ia alto.

quatro meninos assim,

de chapéu de palha e bibe curto às risquinhas,

entre a sombra do rochedo e a areia

tão brilhante que até fazia mal à vista,

de livro aberto no colo e vozes

argentinas, tinham de descobrir

o caminho, mesmo com esforço, mesmo

muito devagar, mesmo que a aragem quisesse

voltar as folhas mais depressa do que eles,

empurrando-as como as pás de um catavento,

num sobressalto de palavras e de imagens coloridas,

soletrando aplicados cada página,

até à hora da merenda.





Vasco Graça Moura,

Poemas com Pessoas, Livros Quetzal