quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Bem-vindos ao novo ano letivo!


 Hora do Conto

Nada melhor do que uma história de encantar para assinalar o regresso às aulas... Os alunos do 5º ano foram convidados a recordar a história tradicional dos irmãos Grimm, «O Capuchinho Vermelho», assistindo depois à animação da versão atualizada de Luísa Ducla Soares, A Menina do Capuchinho Vermelho no século XXI.
Os discentes estiveram muito atentos e conseguiram elencar as semelhanças e as diferenças entre os dois textos. Porém, depararam-se com um problema: a história moderna não tem conclusão!
Lançamos aqui o desafio a todos os alunos para redigirem o final do conto, entregando-o à vossa professora de Português.
Digam-me lá vocês o que acham que ela resolveu?...



A Menina do Capuchinho Vermelho no século XXI – Luísa Ducla Soares

 


A Menina do Capuchinho Vermelho estava farta de viver num tempo antigo, num livro antigo.
Apanhou um dia o João, muito entretido a ler a sua história, e disse-lhe:
– Ajuda-me a saltar para o século XXI.
– Boa ideia! – exclamou o rapaz. Vem daí.
A garota pousou os pés no chão da sala, olhando à sua volta, espantada.
– Repara, está um elefante junto da tua janela.
Ele riu-se.
– Impossível! Eu moro no décimo andar. Aqui só chegam os pássaros.
A menina apontou para a televisão.
Mexendo no comando, o amigo mudou de canal e logo apareceu, por trás do vidro, o fundo do mar.
– Afinal tens uma caixa mágica – concluiu ela, preparando-se para ficar toda a tarde a ver filmes.
Mas o João tinha combinado ir visitar a avozinha.
– Veste o anorak azul – recomendou a mãe. — E leva uns bolinhos à avó Maria.
O rapaz vestiu o anorak, deu a mão à menina e saíram juntos.
– Esqueceste-te dos bolinhos que a tua mãe fez…
Como resposta, o garoto entrou com ela no supermercado.
– Aqui é que eu compro os bolos. A minha mãe passa o dia a trabalhar numa fábrica, não tem tempo para fazer gulodices.
A rapariga ficou admirada com aquela loja gigantesca. Esfregou os olhos pois parecia que estava num sonho. Para mostrar que era crescida e ajuizada, aconselhou:
– Não vamos pela floresta, que aí podemos encontrar o lobo mau…
João desta vez não se riu. A floresta à volta da cidade ardera no verão. Tinham-lhe deitado fogo para construírem mais prédios.
– E eu que gosto tanto de florestas…— choramingou a Capuchinho Vermelho. – nem posso pensar no mundo sem o verde das árvores, o perfume das flores, os bicharocos selvagens…
Iam a atravessar a rua quando… zás! surgiu um carro a grande velocidade.
As crianças fugiram para o passeio mas o veículo ainda embateu no saco de bolos do supermercado. Ficaram feitos numa papa.
– Cuidado! – gritou um polícia. Tomem atenção aos sinais. Querem morrer atropelados?
A menina nunca tinha visto um automóvel mas, depois daquela experiência, concluiu:
– Estou a ver que os carros ainda são mais perigosos que os lobos.
Cuidadosamente foram andando até casa da avozinha, que morava numa pequena vivenda com jardim.
– Truz, truz, truz! – bateu a menina.
– Trim, trim, trim! – tocou o rapaz à campainha.
A Dona Maria, espreitando pelo vídeo de porta, respondeu logo:
– Entra, meu netinho. Trazes uma amiguinha? Lembra mesmo a menina do Capuchinho Vermelho.
– E sou – exclamou ela. – Como hoje já não vou visitar a minha avó, fica para si o pão de ló que guardo no cestinho, feito com ovos das nossas galinhas.
A senhora ficou deliciada.
– Que maravilha! Hás-de me dar a receita.
Foi à dispensa buscar laranjadas e lancharam os três.
A certa altura, o telefone tocou. A avó foi atender. Quando pousou o telemóvel, até os olhos lhe sorriam.
– Como o lobo da velha história não veio visitar-nos, podemos ir nós visitar os lobos.
A menina do Capuchinho Vermelho assustou-se. O rapaz do anorak azul entusiasmou-se.
– Leva-nos ao jardim zoológico, avó?
– Não. No jardim zoológico, os lobos, coitados, estão presos numas jaulas. Até metem dó.
– Então? – perguntou o neto.
– Falou-me o Sr. Costa, que trabalha na reserva do Lobo Ibérico, para os lados da Malveira. Ofereceu-se para nos levar de boleia até lá, de jeep.
A garota desatou a tremer.
– Ai, os lobos devoram as meninas e as avozinhas… tenho medo. Vou voltar para a minha história.
– Que rapariga tão medricas! Há uma rede a separar-nos dos animais – disse a Dona Maria.
Lá foram os quatro. Passaram terras queimadas, povoações, chegando finalmente a uma casinha de madeira numa clareira.
– Já estou no meu ambiente! – exclamou a menina.
– Agora, – avisou o Sr. Costa – nada de barulho para não espantarmos os bichos.
– Vai caçá-los?—perguntou a garota, habituada aos caçadores que matavam os lobos no seu tempo.
– Não. É a hora da refeição deles.
– Que horror! – Eles têm horas certas para atacar os rebanhos? – afligiu-se a Capuchinho.
Os empregados do parque começaram então a dar de comer aos lobos, atirando pedaços de carne por cima da vedação.
– Parecem cães polícias! São lindos! Gostava de ter aquele com um olho azul, outro castanho.
O Sr. Costa disse então que podiam ser padrinhos de um lobo. Ajudavam-no a sobreviver e podiam visitá-lo sempre que quisessem.
– Eu quero ser madrinha de um bebé, do mais pequenino – murmurou a garota, já reconciliada com os seus antigos inimigos.
Foram até à casa de madeira. Cada um preencheu um papel. Depois receberam as fotografias dos seus afilhados.
A avó tirou dinheiro da carteira e entregou-o à senhora que estava ao balcão.
– É uma prenda para os nossos irmãos lobos, tão perseguidos ao longo dos séculos. O mundo também é deles!
Quando voltaram para casa, o menino do anorak azul perguntou à menina do capuchinho vermelho:
– Afinal peço à minha mãe para dormires no sofá-cama ou voltas para a tua história?
“Digam-me lá vocês o que acham que ela resolveu?” »