terça-feira, 1 de março de 2011

Concurso Literário: Juntos, escrevemos sobre valores

               Ao longo do mês de Janeiro, os alunos do Ensino Básico foram convidados a participar no Concurso Literário promovido pelo Departamento Curricular de Língua Românicas e subordinado ao tema: «Juntos, crescemos em valores».



            Após análise de todos os textos entregues, foram apurados os seguintes vencedores:
            a)  categoria 2º ciclo
-  Maria Cardia, 6ºA, «Estrela da Paz»;
b) categoria 3º ciclo
- Francisca Ferreira, 8ºA, «Uma viagem ao mundo dos gnomos»;
- João Ramos, 8º A, «A verdadeira Liberdade»;
- Beatriz Carneiro, 9ºF, «O meu tesouro»;
- Luís Sousa, 9ºF, «Coragem». 



A verdadeira Liberdade


Esta é a história da Senhora Liberdade que todos os dias se gabava de ser livre em todos os sentidos.

Num dia como qualquer outro, na Cidade dos Valores, a Liberdade passeava calmamente pelo parque. Deveres? Não tinha. Direitos? Todos e mais alguns. Era com esta convicção que ela actuava. Claro que prejudicava os outros, mas como ela dizia: “Eu sou livre de fazer tudo o que me apetece”. E foi devido a este pensamento que, neste dia, a Liberdade se apresentou, de novo, ao Sr. Justiça, o juiz da cidade.
Mal entrou no Tribunal, o Sr. Justiça disse, sem surpresa:
– Outra vez por cá, Sr.ª Liberdade? Começa a tornar-se numa presença assídua deste tribunal. Então, o que fez desta vez?
– Nada, Sr. Justiça. Não fiz rigorosamente nada. Apenas agredi a Sr.ª Alegria, uma vez que esta não parava de rir, quando eu precisava de descansar de um longo dia em que usufrui plenamente dos meus direitos. Nada de especial como vê – respondeu a Liberdade com naturalidade.
– Nada de especial??? Por acaso pensou bem no que estava a fazer? Como acha que a pobre Sr.ª Alegria se sentiu quando a agrediu? – perguntou o juiz já um pouco exaltado.
– Eu penso que ela deve ter compreendido que eu merecia aquele momento Zen e, além disso, sou livre não sou?
– Sim, a senhora é livre. Mas atenção: existem limites à sua liberdade!
– Limites?! – exclamou a Liberdade – Não conheço nenhum! A não ser os que eu própria imponho.
E mal a Liberdade acabou de proferir estas palavras, ouviu-se um riso estridente do Sr. Egoísmo, que batia palmas e repetia vezes sem conta “Bem dito…ah…ah…ah…é isso mesmo!!!”, o que contrastava com as expressões de indignação dos restantes valores presentes, que reprovavam  tamanha ousadia.
Então, o Sr. Justiça bateu o seu martelo, tentando pôr ordem na sala. E disse:
– E a senhora não pensa nos outros: na Solidariedade, no Respeito, na Responsabilidade, na Amizade…?
– Pensar nos meus colegas…hmmmm…nunca senti essa necessidade – salientou a Liberdade. 
– Bem, penso que a senhora não tem a noção do que está a dizer. Talvez a intervenção dos nossos amigos a ajude a chegar à razão. Comecemos pelo Sr. Respeito. Faça o favor de se pronunciar.
– Senhores, a falta de consideração pelos outros, demonstrada pela Liberdade, é condenável. Só existe liberdade, respeitando o próximo, não é, Sr.ª Responsabilidade? 
– Claro que sim. A Sr.ª Liberdade deve tomar consciência que não agiu de forma responsável, uma vez que não existe liberdade sem responsabilidade. Não reparou que prejudicou a Sr.ª Alegria, impedindo-a de expressar livremente o seu contentamento?
Então, levantando-se, a Sr.ª Alegria tomou a palavra:
– Quando sorri, foi com a melhor das intenções. Só queria conquistar a amizade da Sr.ª Liberdade. Foi pena que ela tenha interpretado mal a mensagem. Nós devemos muito à Amizade e quem melhor para falar disto do que a própria?
E foi então que a Sr.ª Amizade começou por dizer:
– Nós não somos nada sem os amigos. São eles que nos ajudam quando precisamos. Eles estão sempre presentes na nossa vida. Os amigos são aqueles em quem podemos confiar: são leais, fiéis, honestos, solidários…
O Sr. Justiça concordou e virando-se para a Sr.ª Liberdade disse:
– Tem alguma coisa a dizer, Sr.ª Liberdade?
– Claro, Sr. Justiça. Finalmente percebi que todos têm razão. Eu estava errada. Só pensava em mim e na satisfação dos meus desejos, mas prometo que, a partir de agora, juntar-me-ei aos outros, se me aceitarem.
Todos se levantaram de braços abertos para a acolher e a Sr.ª União, muito satisfeita, proferiu:
– Finalmente, a Cidade dos Valores ficou completa! A verdadeira liberdade é aquela que é vivida com consciência, uma vez que a concretização da nossa liberdade nunca pode prejudicar a liberdade dos outros. Por isso, aqui aplica-se a máxima “Não devemos fazer aos outros, o que não queremos que nos façam a nós”.
Todos concordaram e, a partir desse dia, houve PAZ, ALEGRIA, HARMONIA, RESPEITO, AMOR, AMIZADE, RESPONSABILIDADE, e conheceu-se a verdadeira LIBERDADE… na Cidade dos Valores.

 João Miguel Ramos, 8º A

Uma viagem ao mundo dos gnomos



Era uma vez um gnomo…
  Um ser que acreditamos fazer parte da imaginação dos outros, mas que a história nos diz que fez parte dela e que já justificou a realidade, pois na altura toda a realidade era justificada por coisas divinas.
  Um dia, li num pequeno livro, tão pequeno, que cabia na mão de uma criança, a história de uns pequenos seres mágicos, imaginados em tempos por poetas, chamados gnomos. Estes pequenos seres habitam nas grutas no interior da terra, têm estatura muito pequena, são bonitos, bem proporcionados e só fazem o bem.
   Assim, quando adormeci, momento que desejava arduamente que não chegasse, dei por mim a caminhar numa pequena e linda vila, onde as casas tinham forma de cogumelos, à volta da qual avistávamos uma floresta. Enquanto caminhava e observava a arquitectura desta curiosa vila, deparei-me com dois irmãos, o Jim e a Marisol. E como nós, as crianças, fazemos amigos depressa, começámos logo a conversar e fomos conhecer a vila. No final da visita, eu estava feliz por ter visto uma vila com casas em forma de cogumelo, onde só víamos cores quentes e flores e onde tudo parecia que combinava e tinha sido desenhado por um pintor. 
    Antes de nos separarmos, perguntei-lhes se podíamos visitar a floresta, que circundava a vila e que quebrava a sua cor dourada com o verde. Eles disseram-me que não, pois havia uma lenda, que falava da existência de um gnomo solitário e tristonho, que habitava nas grutas de água da floresta, cheio de poderes mágicos, que impossibilitava a saída de quem se atrevia a perturbar o seu mundo.
   Decidi arriscar, pois a leitura do meu livro sobre gnomos fez-me pensar que eles estavam a exagerar. Com um pouco de receio, abri o portão, que rangeu (“Talvez pelo pouco uso!”, pensei). Comecei a andar, até que encontrei um verdadeiro cogumelo com porta e janelas, como se se tratasse de uma verdadeira casa. Ao observá-lo com cuidado, vi que ali apenas podia viver um ser muito pequeno, talvez um gnomo.
   
           Bati à porta e veio atender-me um miúdo tão pequeno, que não parecia maior do que o meu polegar. Era loiro, de olhos azuis, com uma cara sorridente e marota, mas, ao mesmo tempo, se o observássemos melhor, víamos no seu rosto a cara de um pai responsável e amigo ou mesmo de um anjo pensativo.

   Ele convidou-me a entrar para conversarmos. Entrei, e perguntei-lhe se era o gnomo da lenda. Ele respondeu que sim, mas que a lenda estava errada, pois fazia dele um ser mau. Na verdade todos os que tinham entrado na floresta tinham lá ficado por vontade própria. Foram o seu APEGO, a sua TERNURA e a sua CONFIANÇA ilimitada que fizeram com que todos ficassem. Tinham escolhido a sua companhia, pois no seu mundo a natureza era respeitada por todos, já que manter o equilíbrio da natureza e defender o homem sem que ele soubesse, eram os seus deveres. Entristecia-o que, fora desta floresta, os gnomos já não conseguissem manter o equilíbrio da natureza, nem os direitos de todos os seus elementos, pois o homem sobrepunha-se a tudo e todos.   

  A nossa conversa fez-me pensar nas vezes em que faço tanto lixo, desperdiço tanto papel, e penso apenas no que preciso e quero…no meu erro em não pensar no que é bom para o ar, para a água, para a terra, para isto e para aquilo. Ao estar com os meus pensamentos, ao pensar no desrespeito que vejo por tudo o que não grita, na falta que faz termos medo dos seres mágicos que defendem o ar, a terra e as águas, acordei e pensei:

- Que pena não ter conhecido melhor o meu novo amigo, nem me despedi dele…
Nem consegui plantar a semente da AMIZADE,
Para mais tarde reflectir e sentir SAUDADE.
Sentimento discreto e constante,
Que até levou os gregos a criar uma divindade…
Francisca Sá, 8ºA

A estrela da Paz

Há muitos, muitos anos, o Sistema Solar era governado pelas estrelas. Era constituído pela estrela mor - a Paz -, por uma quantidade considerável de estrelas com nomes de valores, e pelos planetas que eram os responsáveis pela vida das estrelas. Quando existia paz, a Paz aumentava o seu tamanho, quando os planetas estavam em guerra, a Paz diminuía. E era assim que a Paz continuava a viver, numa vida tão longa que quase já perfazia dez mil anos.
 Um dia, uma nova estrela nasceu. Era pequena, mas brilhante, muito brilhante, o que significava que nada igual tinha existido até então. Ninguém tinha dado muita importância a este fenómeno, mas, no dia seguinte, algo de errado aconteceu. A Paz começara a diminuir, o que nunca antes se tinha verificado.
Espalhou-se, então, o ódio pelos planetas e todos os habitantes do sistema, a pouco e pouco, começaram a sentir-se superiores uns aos outros. Então, a guerra instalou-se com o objectivo de se destruírem.
Os anos foram passando e ninguém sentiu a falta da Paz, a não ser as estrelas boas (solidariedade, amizade, etc.) que diminuíam. Tinham sido formadas a partir da estrela rainha. À nova estrela deram o nome de Ódio, porque crescia significativamente desde que o Mal fora instalado. As estrelas chamavam Mal àquele que espalhasse o desentendimento entre a sua povoação. As estrelas tentavam reunir as suas forças para restaurar a Paz, que continuava a diminuir de dia para dia. Afinal, qual era a importância da Paz? A Paz não só mantinha a harmonia, como era a estrela que podia controlar a vida no sistema. Se ela desaparecesse e/ou fosse substituída, a vida desapareceria e as estrelas também.
Passados muitos anos, uma pequena povoação do leste do planeta Darkar observou que a Paz estava mais pequena desde que a tinham visto dez anos antes. Esta povoação sabia que as estrelas, por muito longe que estivessem, sofriam as consequências dos planetas. Então, para não deixar de existir vida em Darkar, peregrinaram por todo o seu planeta, contando a História da Paz.
No final de dois longos anos, Darkar converteu-se totalmente à Paz. O seu lema passou a ser “Juntos pela estrela da Paz”, com o fim de que todos os planetas partilhassem o mesmo lema, o seu.
Nesse mesmo dia, um milagre aconteceu. A Paz, juntamente com um grupo de estrelas, aumentou o seu tamanho! Voltou a haver esperança e o Ódio diminuiu. O planeta Darkar prosseguiu a sua missão e foi rumo a outros planetas. Sempre que podia, voltava à povoação do leste, que fora considerada capital mundial de Darkar, para ver a sua adorada estrela, a Paz.
Os anos foram passando e dez dos doze planetas do sistema adoptaram o lema “Juntos pela estrela da Paz”. Era muito bom que mais de metade dos planetas estivessem convertidos, mas o problema é que os dois que restavam eram os maiores planetas e os que estavam mais perto do Ódio. E isso era muito mau, porque quem lá fosse tornar-se-ia malvado e quereria que todos os restantes planetas se tornassem seus escravos. Para os povos dos vários planetas, era impossível converter esses dois planetas, o que provocou o desânimo entre os que “lutavam” pela Paz.
Mas, para resolver este problema, as estrelas intervieram. Unidas, conseguiram dominar o Ódio, a tal ponto, que ele desapareceu, levando o Mal consigo. Foi a vitória das estrelas e a Paz voltou a reinar como outrora!

     Maria Inês Cardia, 6ºA  

O meu tesouro

  Era uma vez uma árvore que vivia à beira de um caminho. Por lá passavam todas as pessoas. Este era o caminho da vida!
 A essa árvore, poucas pessoas viam, muitas não a queriam ver e outras, então, nem sequer sabiam que ela estava ali, no seu caminho.
Um passarinho, que fazia ninho nos seus ramos, interrogou a árvore:
 - Tu és a minha casa há já algum tempo, certo? E vejo, como tu, todas as pessoas que por aqui passam. Tu até és bonita, digo eu, as tuas folhas são transparentes e muitas vezes brilhas como a luz. Então, diz-me: Por que razão estas pessoas, parecendo não te ver, não param para te olhar? São poucas aquelas que o fazem para contemplar o teu valor e o teu brilho. E porquê, árvore?
  A árvore escutou com atenção as perguntas do passarinho chamado Barnabé e, no final, soltando um pequeno sorriso, exclamou:
  - Ó Barnabé, tu dizes isso, porque não sabes o meu nome, apesar de viveres comigo desde sempre!
  Já um pouco impaciente, o Barnabé interrogou novamente a árvore:
 - Então? Satisfazes a minha curiosidade ou não?
 - Não tenhas pressa! – disse a árvore – Eu não fujo. Apesar de muitos me quererem esconder, estou sempre aqui. Faço- me ouvir, quando menos se espera, apareço sempre, mais cedo ou mais tarde.
 - Ó árvore, que discurso é esse? Estou cada vez mais curioso! - exclamou o Barnabé.
  - Está bem, Barnabé! Até tu já estás sem paciência para me ouvir. – suspirou a Árvore.
 - Eu sou a verdade! Por causa do meu brilho, como tu dizes, por vezes, sou difícil de encarar. Muitas vezes magoo quem me ouve, e faço sofrer quando estou triste. É por isso que muitos passam e não querem olhar para mim! Mas também te digo que contribuo para a felicidade de muitos, esses sim, gostam de mim e, apesar de tudo, não conseguem viver sem este valor tão importante que é a verdade! Faço parte da vida deles, e é através de mim que encontram a sua razão de viver. Cuidam de mim como se eu fosse um tesouro!
   Admirado com a revelação, Barnabé, o passarinho, sussurrou em voz suave:
   - Então, tu és «o meu tesouro»!
Beatriz Carneiro, 9º F

Coragem

Norte de África, 1941
23h:51min

Querido Jack:

Mais um dia neste inferno de areia, já lá vão 2 meses que tentamos sobrevier. Os Afrika Korps de Rommel não nos têm dado descanso. Todos os dias perdemos alguém com quem simpatizamos ou de quem gostamos. Hoje morreu o meu melhor amigo numa ofensiva, quando tentávamos tomar uma pequena vila, pois estávamos a ficar sem água e sem combustível para os nossos carros blindados.
A vila estava fortemente protegida pelos boches, foi por isso que demorámos 2 dias a tomá-la. Essa foi a razão pela qual não te pude escrever mais cedo. Apesar de termos sofrido pesadas baixas, a tomada da vila foi um êxito, uma vez que conseguimos obter 2500L de gasolina, 5000L de água, muitos mantimentos, vários carros armados, uma grande quantidade de armas e munições e ainda fizemos 17 prisioneiros.
Mas neste dia de ferozes combates nem tudo foi mau, querido diário, pois, devido à minha coragem, fui promovido a Capitão. Eu explico-te o que aconteceu… 
Eu e a minha companhia tentámos tomar a praça principal, mas as bolsas de resistência eram muito fortes e estávamos a sofrer muitas baixas. Foi então que decidimos dinamitar o edifício principal da praça (a maioria dos alemães estava concentrada aí), mas o único problema é que estávamos debaixo de intenso fogo inimigo. Nesse momento aterrador, o soldado William, aquele de quem eu te falei há uma semana atrás, disse que se sacrificava para fazer explodir o edifício. Começámos a preparar as bombas e coordenámos os temporizadores em 10min. Se tudo corresse bem (o que seria muito improvável), dava para atirar os explosivos para dento do edifício, correr para junto dos nossos “irmãos de armas” e ver o “fogo-de-artifício”. Mas nem tudo correu como planeado. O William foi atingido no braço e na perna esquerda, mas conseguiu rastejar até um pequeno muro que ali se encontrava. Tudo parecia perdido, ninguém se queria sacrificar para salvar o pobre coitado que, ou morria esvaído em sangue ou morria com a sua própria bomba.
            Como estávamos a ficar sem tempo, eu ofereci-me para ir salvar o soldado atingido e, se pudesse, atirar o explosivo para dentro do edifício principal. Tinha que fazer o que tinha que ser feito. E assim sucedeu. Corri o mais depressa que pude, peguei no engenho e atirei-o para a janela do rés-do-chão. Pus o William aos meus ombros e corri, corri, corri, tudo me parecia em câmara lenta ……. e boom!!! A onda de choque da explosão foi tão forte que nos atirou para o chão. Mas, felizmente, o William continuava vivo e finalmente a salvo!

Quando, ainda no chão, olhei para trás, vi o edifício em chamas e ouvi os meus companheiros a correr na nossa direcção. Senti que tinha sido atingido no braço esquerdo, mas, estranhamente, naquela altura, não me doeu…
O nosso objectivo tinha sido alcançado e foi um contributo importantíssimo para a nossa vitória na conquista da vila.
Mais tarde, no acampamento, os médicos tiraram-me os estilhaços do braço e disseram que não era nada de importante, a ferida sararia dentro de 3 ou 4 dias.
Entretanto, entrou um General na minha tenda e disse-me que, em virtude da coragem por mim demonstrada, seria promovido a Capitão o que me deixou muito feliz.
E por hoje é tudo, já são horas de ir para a tenda.
Amanhã vamos dirigir-nos para a Líbia.
O teu Cpt. Price


Luís Sousa, 9º F