sexta-feira, 13 de julho de 2018

O tema do AMOR na literatura…


No âmbito do estudo do texto poético, os alunos do oitavo ano, turma C, segiuram as «pegadas» de Camões e redigiram um poema coletivo. Este texto é o resultado das diferentes definições individuais de um sentimento tão profundo quanto complexo e controverso: o Amor.

Amor é um fogo que arde sem se ver

 Amor é um fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se e contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

O Amor é…

O sol que ilumina os dias de chuva.


O alimento da alma. É sermos guiados pelo coração, contra tudo e todos. É uma força maior do que a da Natureza, alimentada por simples gestos. É, também, uma arma contra a violência. É o que nos une e nos mantém vivos. É algo puro e genuíno, como uma pequena criança. É como as tintas que dão vida a uma tela.
Um sentimento que nos comanda e que nos leva a agir sem pensar.
Sentir que temos alguém ao nosso lado em todas a situações.
Um sentimento forte e verdadeiro, que se dá e recebe.
Um sentimento partilhado por duas pessoas que querem expressar mutuamente as emoções, mas com a obrigação de amar e respeitar.
É uma beleza que não se vê, mas, indubitavelmente, a maior do universo.
É um sentimento que está presente em todos nós e pode ser conquistado com pequenos ou grandes gestos.
É algo único que não se vê, porém, anda por todo o mundo, entre a multidão.
“Cego”, não interessa a idade, o sexo, a cor… Existem diferentes tipos de amor: amor de família, de amizade, de paixão, mas não deixa de ser amor: o sentimento mais forte do Mundo.
Um sentimento multifacetado que pode ser recíproco, que se demonstra por atos carinhosos ou pela forma como se trata as pessoas de quem gostamos. É trocarmos energias positivas com as pessoas que amamos.
Ter milhares de escolhas e fazer sempre a mesma, todos os dias.
Quando nunca nos sentimos sozinhos, quando temos alguém que nos acompanha. É um sentimento inexplicável.
Sentir paixão ou qualquer outro tipo de afeto pelo outro. É ajudá-lo e acarinhá-lo. É realizar atos de bondade.
Uma atração que não se explica, sente-se apenas. É uma força comandada pelo nosso coração que nos obriga a ser leais.
Um sentimento que nos une e nos deixa mais felizes, completos e realizados.
Dar sempre o melhor de nós, é pensar no bem geral e não apenas no bem individual, é saber partilhar, é saber oferecer e não apenas receber.
Algo que acontece que espontaneamente, é ter alguém que está sempre connosco.
Algo que se sente, que nos deixa ansiosos e muito felizes. Pode manifestar-se e ser interpretado de várias maneiras.
O que nos alimenta todos os dias e o que nos faz querer continuar a viver. É ajudar e ser ajudado, é ser feliz.
Tão puro como a água que bebemos.
Como uma flor, precisa de ser regado todos os dias com pequenos gestos.
Um sentimento inexplicável que toma conta dos nossos corações.
Algo que não se vê, mas que está presente em todo o lado. Cria e destrói, une e desune pessoas e nações.
Uma força inexorável que se apodera dos nossos corações e controla as nossas vidas.
Um sentimento tão forte, inevitável e compulsivo como a vontade de dar “spoilers”, quando vês a mesma série pela terceira vez. Aparece tão rápido como o “Flash”, é eletrizante como o “Blacklightning”, emocionante como “Stranger Things”, mas pode magoar tanto como as setas do “The Arrow”. Quando amamos alguém, sentimo-nos na “La Casa de Papel”, pois roubam-nos o coração.
Português -  8º C





Também o Concurso Literário, promovido pelo Grupo Disciplinar de Línguas Românicas do Ensino Básico, teve como tema «O Amor». Os concorrentes surpreenderam-nos, mais uma vez, pela sua criatividade, originalidade e qualidade de escrita. Seguem-se alguns exemplos….


De Julieta, Romeu e flor se faz história de amor
Livro dos Desprovérbios

Desabrochavam já, na velha macieira do pátio da escola, os primeiros sorrisos rosados das flores, quando Joana se sentou debaixo da árvore secular cujos ramos lembravam braços prontos a socorrer um lenho em mar revolto. Uma náufraga! Esta era a sensação da jovem desde que chegara à escola e procurara, em vão, a ilha de um sorriso. Era, pois, sob a sombra protetora da antiga árvore que passava os intervalos intermináveis. Tímida, incapaz de reconstruir a teia de afetos, quebrada com a mudança da família, Joana vira naquela árvore o berço que, naquela manhã de primavera, a embalava na leitura das iniciais gravadas no banco que circundava a venerável macieira. Alheada, não viu o rapaz que se aproximava perigosamente de um casulo que ainda ninguém rasgara.
– Olá, és nova por cá! Como te chamas? Eu sou o Rodrigo.
Rodrigo e Joana, Romeu e Julieta… uma luz quente atravessou o coração de Joana, que não conseguiu articular uma só palavra da fórmula de apresentação milhões de vezes ensaiada. Mesmo recém-chegada, a onda de beleza e simpatia que Rodrigo arrastava consigo, já se abeirara da sua árvore. Alto e magro, foram, todavia, os seus olhos, de um azul tão líquido que parecia querer derramar-se, que atraíram Joana como a luz de um farol na escuridão. Apenas dois sulcos vincados e negros nas pálpebras conferiam a este Apolo uma nota de mortalidade. Por isso, quando Rodrigo se afastou, Joana pensou, frustrada, que as ondas são beijo breve e é nesse momento fugaz que temos de lhes sentir o sabor a sal. E, ainda por isso, foi colhida de espanto, quando, no dia seguinte, Rodrigo voltou e ficou debaixo daquele véu de grinaldas esvoaçantes. O rapaz foi demorando um pouco mais a cada dia, até os intervalos começarem a ser demasiado curtos para tudo o que havia a dizer. Até os professores, cientes de que a verdadeira aula era dada todas as manhãs debaixo da macieira florida, ignoravam os atrasos dos dois apaixonados. Após um mês, o namoro era oficial, apadrinhado pelos gomos, frutos perfeitos, despontando carnudos e olorosos no pátio tristonho da escola.
Será curto este parágrafo, da mesma forma que sempre são breves os momentos de felicidade. Deixam, porém, uma marca em filigrana no coração, como o J e o R que Joana e Rodrigo talharam a canivete no banco que abraçava a macieira. E só mesmo estas duas letras recortadas e puras testemunharam, nesta Verona improvisada, os beijos roubados e as conversas tontas, que encheram as tardes dos dois namorados, passadas de mãos dadas a falar do futuro, esse andarilho cioso da sua privacidade, que deixa apenas uma pequena porta entreaberta, pela qual dá para sentir o seu perfume, mas que não deixa ver com clareza o seu interior. Foi já explodindo de frutos perfumados que a macieira assistiu, num silêncio levemente desdenhoso, à despedida dos dois jovens para cumprirem dois meses de férias grandes, oferecendo o seu fruto doce, apetecível, mas adiado.
Quando Joana regressou à escola, as folhas amarelas da macieira vestiam a sua capa de outono. Sentou-se debaixo da enorme copa, à espera de matar a sede na água cristalina dos olhos de Rodrigo, mas, nessa manhã fria, ele não apareceu e, só uma semana depois, Joana viu explicada esta ausência tecida de indiferença. Foi pela mãe de Rodrigo que soube da sua morte, durante as férias, vítima de uma doença que lhe cavara ainda mais os dois sulcos negros. Determinado a fintar a morte, não quisera partilhar com a namorada as sessões de quimioterapia e a queda do cabelo que confiava voltar a ver crescer, salpicados de leves flores de macieira. Contudo, também a morte tem os seus caprichos de donzela e a juventude de Rodrigo era uma conquista irresistível para esta devoradora de sonhos que reclamou o seu troféu já no final do verão, quando as maçãs vermelhas caíam inúteis no pátio. Subjugada pelo desespero desta revelação brutal, Joana deixou de sentir. O que lhe poderia agora ensinar a macieira nos seus vestidos de inverno? Deixou de procurar a árvore e fechou-se num ouriço de recusas que fazia recuar todos os que à sua volta se esforçavam por a devolver à vida.
Assim, só quando o Sol envolveu novamente a macieira no seu vestido de gala, Joana se sentou no velho banco de madeira esverdeada e percebeu uma pequena caixa escondida dentro do tronco da árvore. Sentiu um baque no coração, o primeiro em meses, e agarrou a caixa. Incrédula, encontrou uma carta de Rodrigo. “Para a minha Julieta” eis as letras escritas numa letra firme, que a chuva quase apagara. Mas nem o tempo se atrevia a negar o direito a uma resposta que Joana acreditava ser-lhe devida. Deixou falar a carta que lhe testemunhava o quanto Rodrigo se sentira feliz por a ter conhecido e o quão grato estava por ter sido abençoado com a sua amizade. Atrevia-se mesmo a pedir-lhe que não fechasse o seu coração ao amor. No final, Joana apertou o papel junto ao coração. Sabia agora que o amor era a jangada de afeto que não mais a deixaria à mercê das vagas da solidão. Então, lentamente, o seu coração esvaziou-se do fel de sucessivos aluviões de raiva. Olhou novamente as duas iniciais gravadas no banco e compreendeu que desafiavam a morte, cobertas das frágeis pétalas rosadas da macieira.
Nessa noite, após ter aceitado o convite de Raul para sair, o diário que não fora aberto desde a morte de Rodrigo iniciava com uma frase singular “Naquele momento, aprendi a amar”.
Carolina Paupério, 9º C
(Texto vencedor)
A lição

À primeira vista, parecia um dia normal, típico e monótono. Decidi, então, ir dar uma caminhada para tentar desanuviar de todas as contradições néscias e palermas que afloravam na minha cabeça a cada segundo que passava.
Desde há muito tempo que carregava este peso que adquiri não sei bem porquê e muito menos quando. Era como se, de certa forma, ele estivesse sempre lá. E a cada dia este sentimento de rejeição de mim mesma aumentava e eu não conseguia controlá-lo.
Por isso, numa tentativa de interromper, nem que por alguns segundos, a espiral descendente da minha recusa interior, decidi ir dar um passeio, sem destino ou tempo definido.
Comecei a caminhar lentamente, a focar-me na respiração e a apreciar cada detalhe do mundo em meu redor. Nesta minha marcha demorada, tentei admirar esses detalhes de uma forma mais positiva. Era uma manhã de cores suaves, de brisa fresca e de sol pouco abrasador, que revelava o impetuoso frio que não ajudava a equilibrar a temperatura da minha alma, outrora aquecida, mas que havia algum tempo esgotara o calor da felicidade.
E, numa tentativa de aquecer esta alma enregelada, tentei apreciar o cheiro da natureza, com a característica fragância a flores que, pensando bem, até era muito reconfortante, e a estimar a brisa, que se detinha assim que encontrava o meu corpo e que arrastava ligeiramente as folhas secas, escuras e enrugadas, típicas da estação do ano.
Entretida, a acompanhar o movimento destas folhas amarrotadas, acabei por chegar a um jardim amplo, cheio de choupos desprovidos de folhas, com os seus ramos nus à mercê dos ventos e das chuvas. No centro deste austero jardim, encontrava-se um baloiço velho de madeira, onde uma menina se sentava. Esta tinha faces pálidas, quase até translúcidas, que contrastavam com o seu cabelo negro como o carvão.
Não consegui deixar de reparar nos seus olhos, verdes, que lançavam um olhar vago e misterioso, e que a envolvia numa áurea pessimista e de certa forma negativa. Retive-me para a observar melhor… E não bastou muito tempo para perceber que a rapariga de pele translúcida trespassada pelos quentes, finos e revigorantes raios de sol era eu.
Era eu que me envolvia a mim mesma num clima de negatividade por nenhuma razão aparente...
Perdida nos meus pensamentos, uma gota de água despertou-me para a realidade. Em poucos segundos começou a chover intensamente.
A chuva violenta começou a bater contra o meu corpo, sem misericórdia ou compaixão. Podia fugir dela e tentar abrigar-me, podia colocar o meu casaco por cima da cabeça. Mas não o fiz. Apenas fiquei parada a sentir o peso das minhas roupas encharcadas e a admirar o arco-íris que se havia formado no céu azul e cinzento. E neste momento desliguei-me do real apenas para usufruir do momento. Ao longe, o coaxar das rãs elaborava uma sublime melodia adjacente ao barulho da chuva a bater contra a densa e espessa relva. Inspirei e suspirei algumas vezes. E uma lágrima cristalina caiu, camuflada pelos pingos grossos e densos, a escorrer-me na face. Uma lágrima que continha todas as minhas dúvidas e indeterminações. Uma lágrima pura que fez com que algo em mim voltasse a aquecer.
E naquele momento, aprendi a amar. Aprendi a amar a vida, a amar o facto de poder respirar, sorrir e chorar, de poder amar. Amar-me a mim mesma e aos que me rodeiam. A amar os cheiros, as cores, os sabores e os arrepios. A amar a tristeza porque ela faz com que a felicidade seja ainda mais gratificante. A amar o sangue quente que corre nas minhas veias e a amar o coração palpitante dentro de mim. A dar valor aos que me rodeiam e que me amam. Aprendi que tenho o poder de ser feliz e de fazer os outros felizes. A amar o facto de estar viva.
Naquele dia normal, típico e monótono, eu aprendi a lição mais importante da vida, aliás, aprendi a lição da base da vida: amar e deixar ser amado.
E, a partir daquele momento, eu comecei a viver e não simplesmente a existir.

Beatriz Lima Coelho, 9ºA


Onde o Sol nasceu, 14 fevereiro 2018

Querida Lua,  
Ela. Amo-a? Não sei se é amor, mas é algo que me parece normal e especial, que me parece simples e complexo, que tanto parece um abraço como um aperto sufocante.
Certo dia, apareceu, acompanhada por um sorriso infantil, um sorriso que me contagiou e acelerou, um sorriso capaz de me enfeitiçar. O cabelo negro da cor das rochas com que o mar conversa, os traços femininos e o seu andar deixaram-me afónico e, pelo que me pareceu, deixaram--me apaixonado.
Foram sorrisos, provocações, foram dias, foram noites… Foram muitas as vezes em que ela me invadiu e me controlou. Por vezes, mascarava-se no escuro da noite e aparecia junto a mim no meu quarto, deitava-se ao meu lado e dava-me a mão. Sorria, cantava, e ficava ali comigo no silêncio só a existir, e fazia-me feliz. Outras vezes, dava-me a sua mão macia e levantava-me, punha os braços à minha volta e dançávamos. Enquanto me sussurrava ao ouvido doces melodias, os nossos corpos viajavam no meu pequeno quarto e uniam-se, tornando- se num só. E o quarto iluminava-se, a nossa união era consumada num clarão que me cegava… Estava de novo tudo escuro, eu deitado e ela longe, mas perto, dentro de mim, sempre.
Acreditei… tudo aquilo me enfeitiçou e me fez crer que ela era a tal, que era ela quem me fazia feliz, que era ela quem me estava destinada.
Foram muitos os dias em que a vi sorrir para o chão, naquele seu olhar envergonhado, naquele seu jeito de ser que me desconcertava e me destruía lentamente, um castigo, uma dor que eu precisava para poder sorrir.
E eu via-a diminuir-se para caber no coração daquele que a “amava”, aquele que, segundo ela, era perfeito, que a amava como ninguém.
Lembro-me de uma noite de inverno, em que a chuva resmoneava na rampa da garagem e eu pensava nela, na maneira singular como me olhava, cada olhar que lançava incendiava-me, sem razão alguma, um olhar de relance era o suficiente para me fazer apaixonar cada vez mais por ela.
E aconteceu, o inevitável tornou-se parte da minha realidade e ela apaixonou-se…por ele. Não soube bem o que pensar, de entre os vários cenários que idealizara, este fora o único que nunca tinha sido sequer considerado. O conto de fadas por mim escrito tinha agora um trágico desfecho, num gesto egoísta o destino escolheu punir-me…por amar.
A partir daí tudo mudou. Os planos alteraram-se, um futuro desenhado a traço fino, era agora apagado, avizinhava-se um novo desenho, desta vez, desenhado com amor. Sim, porque no momento em que a vi partir sorrindo, aprendi a amar. Amar tornou-se simples. A minha paixão por ela fazia sentido, amava-a mesmo que esse amor não fosse recíproco, amava-a mesmo sabendo que isso nada alteraria.
O mundo ganhou outra cor, o meu desenho aparecia agora passado a tinta, brilhando com cores vibrantes. Ela estava feliz, como…? Não sabia, mas isso era o suficiente para me deixar feliz, ver a pessoa que amava a sorrir fazia-me amá-la.
Amar por mim e por ela fez com que a minha paixão não se desvanecesse. Ainda hoje a amo, e grito-o: “Amo-a!”.
Diogo Coutinho, 9º A